Jovens, negras e negros ainda são as maiores vítimas da violência do Brasil
Os jovens, as negras e os negros ainda são as principais vítimas de homicídios no Brasil. Isso é o que mostra o levantamento do Atlas da Violência 2018, publicação do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta semana. De 2006 a 2016, o número de homicídios de […]
8 jun 2018, 16:37 Tempo de leitura: 2 minutos, 45 segundosOs jovens, as negras e os negros ainda são as principais vítimas de homicídios no Brasil. Isso é o que mostra o levantamento do Atlas da Violência 2018, publicação do Ipea (Instituto de Pesquisas Econômica Aplicada) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgado nesta semana.
De 2006 a 2016, o número de homicídios de jovens entre 15 e 29 anos cresceu 23%, atingindo 325 mil jovens. Isso representa uma média de 65,5 mortos a cada 100 mil habitantes, com 33.590 jovens assassinados somente em 2016. O dado é o dobro da média nacional e mais de seis vezes a taxa global de homicídios de jovens, que é de 10,4, segundo a Organização Mundial da Saúde.
Quando falamos do perfil das vítimas, os dados mostram que 7 em cada 10 vítimas são negras e do sexo masculino. Ao total, o Atlas mostra que 71,5% das pessoas assassinadas a cada ano no Brasil são pretas ou pardas. De 2006 a 2016, a taxa de homicídios de negros cresceu 23,1%, enquanto a taxa entre não negros teve redução de 6,8%.
O cenário não é diferente quando avaliamos os dados com relação às mulheres negras: em 10 anos a taxa de homicídios aumentou 15,4% entre elas. No mesmo período, o número entre as mulheres não negras baixou 8%.
Para os pesquisadores, mesmo não sendo possível dizer que todas as mortes de mulheres são tipificadas como feminícidios, a mulher assassinada muitas vezes já foi vítima de outras violências de gênero, como violência psicológica, patrimonial, física ou sexual. Eles destacam que os assassinatos poderiam ter sido evitados se essas mulheres tivessem tido apoio para sair de um ciclo de violência.
Violência contra crianças e mulheres
Nesta edição, o Atlas da Violência fez pela primeira vez um estudo detalhado da violência sexual contra a mulher.
Em cinco anos, de 2011 a 2016, o número de registros de estupro no Sistema de Saúde cresceu 90,2%. Nesse mesmo período, houve aumento dos casos de estupros coletivos – de 13% para 15,4% e uma pequena diminuição dos casos em que o estupro era praticado apenas por um agressor – de 81% para 77,6%. Neste mesmo período, os estupros coletivos vitimaram 43,7% mais meninas menores de 13 anos e 36,2% de mulheres maiores de 18 anos. Em 12% dos casos, a vítima era uma pessoa com alguma deficiência.
Em 2016, a polícia recebeu 49.497 denúncias de estupros e, o Sistema Único de Saúde, 22.918 registros. Os pesquisadores acreditam que os números não representam a realidade devido às dificuldades ainda enfrentadas na hora do registro desse tipo de crime e estima que o país tenha de 300 mil e 500 mil casos de estupro por ano.
Para os pesquisadores, os dados do Atlas da Violência traduzem e reforçam a desigualdade social, escancaram o racismo estrutural do país e mostram a vulnerabilidade muito maior de negros do que não negros como vítimas dos assassinatos. Além disso, destacam que 11 milhões de jovens não estudam e nem trabalham, o que demostra uma falta de investimento no potencial produtivo dos jovens, sem a garantia de uma escola de qualidade e de emprego, fazendo com que a violência cresça onde faltam estas oportunidades.